segunda-feira, 16 de maio de 2011

No final do arco-íris

foto de Maria Buzanovsky

Foram 41 semanas de uma linda espera. Dessa vez, 16 anos depois do nascimento da minha primeira filha por meio de uma cesariana desnecessária, eu tinha certeza de Raul Luiz viria ao mundo de parto natural. Pilates, cursos, doula, banheira de parto, médico, apoio do meu marido, da minha filha, da minha mãe, da minha tia tudo conspirava a favor.
As movimentações começaram no sábado de manhã. Acordei com uma pequena cólica e leve sangramento. Um pouco mais tarde, senti o tampão mucoso começar a sair. É agora, pensamos! Finalmente nosso tão esperado menino dava o ar de sua graça. Imaginávamos que, em poucas horas, veríamos o seu rostinho. Como aqui em casa estava em obra e o pedreiro ia usar um material com cheiro forte, fomos para a casa da minha mãe.
Estávamos em festa! As contrações foram aumentando e o tampão saindo. Liguei para o médico e para a doula.  Como as contrações ainda eram irregulares, o negócio era esperar. Me alimentei normalmente, na medida do possível, já que fiquei meio enjoada. Usei a bola de pilates para aliviar o incômodo e busquei, com a ajuda da minha família, me distrair.
Veio o domingo, as contrações aumentaram de intensidade, mas vinham e voltavam sem regularidade. Às vezes ficavam de 2 em 2 minutos, depois sumiam. Exercícios respiratórios, massagens feitas pelo meu marido e o carinho da minha filha ajudavam a diminuir a ansiedade e a suportar as ondas de contrações. De noite, comecei a me preocupar, pois eu não conseguia dormir e nem comer direito. Quando começava a dormir, vinham contrações e me despertavam. Meu medo era de ficar cansada demais antes mesmo do trabalho de parto propriamente dito começar.
Após mais uma noite sem dormir, ligamos para o médico e ele indicou que eu tomasse Passiflorine e buscopan para poder descansar algumas horas. Foi o que fiz. As contrações foram se tornando mais fortes e eram suavizadas com o banho de banheira. Eu estava meio em transe por causa do cansaço, mas lembro de como era bom sentir meu marido e minha filha jogando água quentinha em mim...
Desde o domingo, a cada contração minha calcinha molhava com líquido amniótico e urina. Passei a usar absorventes para evitar o incômodo. Mas, de segunda para terça  comecei a perceber que o líquido saía escuro e desconfiei que era mecônio. Meu marido ligou para o médico já quase de manhã e ele nos pediu para irmos rapidamente para a maternidade.
Minha mãe nos levou. Desde a noite anterior, senti meu filho mexendo de um jeito estranho na barriga e pensei: vai ser cesárea... Senti muita tristeza nesse momento... A sorte é que no caminho, sentindo muitas dores, vimos o céu ser pintado por dois lindos arco-íris. Eu, Abel, Giulia, minha mãe e minha tia nos emocionamos e nos enchemos de esperança e alegria. Nosso menino estava tendo uma recepção e tanto pela mãe natureza!
Quando chegamos na maternidade, o médico já nos esperava. Após tanto tempo em trabalho de parto eu não tinha nem 1cm de dilatação, havia muito mecônio saindo junto com o líquido amniótico e os batimentos cardíacos do nosso filho estavam caindo. Resultado: cesariana de urgência. Chorei muito! Vi meu sonho do parto natural ir embora. Ainda conseguimos criar um clima, levando para a sala de cirurgia o computador com as músicas que carinhosamente tínhamos selecionado para a hora mágica do parto. Raul Luiz veio ao mundo ao som de Carinhoso, embalado na melodia de Pixinguinha. Foi uma explosão de emoção, Abel trazendo Raul nos braços pra mim, resplandecendo na luz do sol que invadia a sala.
Do lado de fora, minha filha ouvia o chorinho do irmão. Tínhamos programado que ela assisitiria o parto e ela havia criado grandes expectativas. Ela não pode entrar no centro cirúrgico. Senti a sua falta na hora P. Minha menina foi muito presente durante toda a gravidez e acompanhou de perto todo o processo que trouxe seu irmão ao mundo.
Raul Luiz nasceu bem e enorme. 55com, 4345kg! Mamou na sala de cirurgia, mesmo tendo sido aspirado por causa do mecônio. Ficamos muito felizes e eu meio culpada de estar sem sentindo meio estranha, afinal, o que importava era ele vir com saúde, né? Bom, mas na real não é bem assim....
O que me consolou foi que, ao menos desta vez, a cesariana era a indicação correta e eu tinha entrado em trabalho de parto, estourado bolsa, sensações fortes e bonitas que até então eu desconhecia. E só agora, passados 4 meses, consegui escrever este relato e começar a trabalhar o turbilhão de emoções que me invadiu no parto e pós-parto do Raul. Nosso potinho de ouro no final do arco-íris....

4 comentários:

  1. Muito legal, Adriana.. Não conhecia o blog. Muito bom vc fazer isso. Grande abraço para vc e Abel, e tudo de bom, tb, para seus filhos.
    Johnson.

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  2. Adriana, posso apenas imaginar todas essas sensações que você sentiu durante esses dias. Mas estamos aqui para nos emocionar mesmo. A foto de vocês está linda. Um beijo no coração.

    Mônica. (Moniquinha da UFF, rsrs)

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  3. Obrigada, queridos!
    Moniquinha, a foto é da Maria Buzanovsky. Ela tb fez Uff e hj é uma fera das lentes.
    bjos

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  4. muita ocitocina nesse relato!
    eu tb não consegui realizar o sonho mais esperado até dia 28 de abril - o parto natural - por motivos diferentes do seu, decidimos por uma cesariana no alto das 41 semanas e 6 dias...foi um processo difícil pra mim tb aceitar a cesariana, mas assim como vc tive a sorte do apoio do tiago e do meu GO...e de uma equipe especial no parto,a Manu tb foi amamentada no centro cirúrgico!!!
    e agora os sonhos mais esperados são outros, o leite, o soninho tranquilo, o desenvolvimento das nossas criaturinhas, um sorrisinho, o olhar e tudo que vem com a chegada dos nossos filhotes...estamos vivendo os dias mais felizes e intensos de nossas vidas! Bj pra sua família linda, Andreza e Manu.

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